A primeira aula de equitação

Liam ficou feliz por ser convidado para o piquenique também, só foi ser chamado que sua barriga começou a roncar, então ele foi até no meio de Dennis e Elisa passando os braços ao redor dos pescoços dos dois.

- Desculpa estragar o clima dos dois, mas estou realmente com fome. – Então o sátiro tira o braço que estava na Elisa e pega um sanduiche.

Dennis deu uma risadinha sem graça com o comentário do sátiro. Sentiu o rosto — literalmente — queimar, corando intensamente. Foi possível sentir um cheiro de queimado vindo da cabeça do filho de Hefesto.

Ele pegou outro bolinho, tratando de mudar de assunto:

— Tá tudo muito bom, Clover! Você cozinha bem, hein? Quer casar comigo? rs — perguntou, dando um sorrisinho sacana.

Clover ouve o comentário de Dennis e começa corar, estava pensando em como seria voar com a Mary até ser chamada pelo Dennis.

- Quêêê, eu só fiz pouca cois... não fiz nada, e não quero casar com um incendiador de florestas. – Clover fica meio sem graça e pega um copo de água.

- Hum... Um triangulo amoroso hein, é melhor você não ficar atrás Elisa. – Liam fica sorrindo e pega um suco para beber.

-Pffft, Cala boca Liam!!! – Clover cospe a água que estava tomando na grama.

O ruivinho pareceu magoado ao ser relembrado de sua "façanha".

— E-Ei! Eu já disse que foi sem querer... — choramingou, desviando o olhar. Preferiu ficar quieto depois daquilo, pois afinal, não queria irritar Clover.

Não era a intensão de Clover ofender o garoto, as palavras apenas saíram da boca da garota, então arrependida a filha de Deméter pega uma maçã e entrega para o Dennis.

-Ó pega, foi eu que colhi, não queria de magoar, desculpa. – Clover ainda estava corada, não queria que Dennis e Liam interpretassem aquilo de forma errada.

Dennis piscou várias vezes, surpreso com o gesto da filha de Deméter. Pegou a fruta com cuidado, como se ela fosse um explosivo ou algo do tipo.

— Ah... Valeu. — ele deu um sorrisinho — Não se preocupa!

Então, deu uma grande mordida na maçã. Era suculenta e saborosa; de longe, a maçã mais gostosa que já tinha provado sua vida inteira.

— Tá muito boa! Onde é que você colheu essa maçã? Você podia me levar lá algum dia! Prometo que não vou queimar nenhuma macieira sem querer ou algo do tipo! Eu acho...

Ao ouvir a pergunta do pirralho baixinho, Dennis se engasgou com a maçã. Bateu no peito com força, tossindo um pedaço da fruta mal mastigado.

— H-HÃ?!?! Q-Que tipo de pergunta é essa, nanico?! — gritou, o rosto e o pescoço extremamente vermelhos. Algumas pontas de seu cabelo começaram a pegar fogo.

O garoto sardento desviou o olhar. Recomposto, deu um sorrisinho e disse numa voz sensual:

— Tem Dennis pra todo mundo, pessoal. Até pra você, nanico rsrsrs — e então lançou um olhar para Ryan, erguendo as sobrancelhas de modo insinuante.

Após o piquenique, o grupo começou a se organizar para continuar com a aula. Mark tratou de se manter bem afastado dos animais, apenas observando os novatos montando em seus pégasos.

As instruções de Ceci foram simples: para fazer os pégasos alçarem voo, bastava dar duas batidinhas na barriga deles e puxar as rédeas de leve para trás.

— Fiquem com os pés nas esporas e sentados nas selas! E nada de manobras perigosas no ar, estão ouvindo? Não voem muito alto ou muito longe da clareira. Com isso, podem começar a primeira aula de voo de vocês!

Com um sonoro "AVANTE!", Cupcake tomou impulso e bateu as grandes asas, alçando voo. A filha de Deméter subiu como um foguete e, após atingir certa altura, começou a planar, esperando pelos outros campistas.

Dennis aproximou-se de Doce de Leite, ajeitando sua sela. A égua tentou mordiscá-lo; parecia ter sentido saudades dele...

— Pronta para voar, docinho? — perguntou, afagando sua crina e entregando-lhe uma maçã vermelha e suculenta escondido.

Doce de Leite engoliu a maçã numa só mordida. Relinchou animadamente, abrindo as asas e assustando assim os dois filhos de Hefesto. Dennis riu ao ver que o meio-irmão tinha dado um gritinho ao se assustar.

— Ande logo e suba nesse bicho...! — rosnou Mark, levemente corado.

Doce de Leite sentiu-se ofendida com o comentário do loiro. Bufou e raspou os cascos no chão, parecendo prestes a pular no rapaz e pisoteá-lo até a morte. Com certeza teria feito isso se o dono não tivesse se colocado entre os dois e acalmado o animal.

— Vamos, docinho! Não dê bola pra o que esse bobalhão diz! — Dennis acariciou o pescoço da égua, esfregando sua cara no focinho dela e falando numa vozinha infantil: — Quem é a pégaso mais linda do mundo, hein? Quem é a pégaso do papai?

Doce de Leite relinchou alegremente, abocanhando os cabelos cor de fogo do humano. Dennis afastou-se rapidamente, soltando um "ai!". Aproximou-se pela esquerda e subiu na pégaso, segurando as rédeas com força e certificando-se que seus pés estavam bem colocados nos estribos.

Dennis fitou o céu, subitamente nervoso. Um misto de ansiedade e medo tomou conta de seu corpo. Por um lado, mal podia esperar para saber como era a sensação de estar voando... e por outro, nem queria imaginar qual seria a sensação de cair daquela altura e se espatifar todo no chão...

As mãos do ruivo esquentaram, começando a queimar as rédeas. Antes que o meio-irmão botasse fogo em seu pégaso, Mark gritou, assustando Doce de Leite e fazendo com que ela tomasse impulso e saísse voando:

— VAI!!

Dennis berrou enquanto subia velozmente, sentindo um frio na barriga. O vento batia com força contra seu rosto sardento e, sentindo-se subitamente enjoado, fechou os olhos.

De repente, o vento se tornou numa brisa agradável. Dennis abriu os olhos devagar. Doce de Leite planava pelo ar, voando em círculos. A visão dali de cima era de tirar o fôlego (literalmente mesmo): era possível ver não apenas o bosque, mas todo o Acampamento. Os estábulos, os campos de morango, os chalés, a praia... Aquilo era...

— Uau...

O garoto deu um sorrisinho bobo, estonteado com aquela vista. Olhou para baixo; estava a muuitos metros de distância do solo. Mark era apenas um pontinho carrancudo e mal-humorado lá no chão.

— ISSO É DEMAIS, CARA!! — Dennis gritou, soltando as rédeas por um momento e esticando os braços para cima, vitorioso. — Vamos lá, docinho! Ao infinito, e além...!!

Doce de Leite assentiu, batendo as asas e tomando mais altitude. Subia e realizava pequenos mergulhos, fazendo o dono gritar toda vez que fazia isso.

A aula corria bem. Então, um trovão foi ouvido ao longe.

O céu até então azul escureceu. Nuvens negras surgiram do nada, atravessando as barreiras mágicas do Acampamento e sufocando a luz do sol.

Aquilo não era para acontecer.

Mesmo atônita, Ceci logo se recuperou, gritando à todos os novatos:

— PARA O CHÃO, AGORA!!

Dennis estava completamente confuso. Ceci parecia assustada. Com um outro trovão, seu corpo inteiro tremeu e, sem esperar mais um segundo, ordenou para que Doce de Leite retornasse ao solo. Sua pégaso pintada mergulhou e, quando pareciam prestes a se estatelar no chão, a criatura abriu as asas e pousou.

Começou a chover. E muito forte.

Mark fitava o céu boquiaberto, como se a chuva fosse algo totalmente surreal.

Da última vez que uma tempestade como aquela atravessou as barreiras do Acampamento...

Os outros campistas que observavam a aula olhavam uns para os outros, confusos. Enmei ignorou a chuva que o encharcava, ocupado demais observando os novatos que ainda estavam em pleno ar.

— Que o show comece... — murmurou, dando um sorrisinho perverso.

Seus olhos bicolores faiscaram, ansiosos. E então, raios começaram a cair. Um raio de cor azul-gelo cortou o ar, indo em direção à Elisa e Thea.

— ELISAA!! CUIDADO!! — berrou Dennis, agitando os braços e tentando chamar a atenção da garota. Se aquele raio as acertasse... com certeza, seria o fim.

Clover depois de ajudar sua líder de chalé a guardar o piquenique foi até a sua pégaso, desta vez ela teve mais facilidade em subir em Mary, mas começou a imaginar mil e uma possiblidades que poderia acontecer quando ela voasse. Vendo que todos já tinham voado menos ela, a filha de Deméter conseguiu coragem e ordenou que Mary decolasse dando dois toques na barriga e puxando a rédea para trás.

Obedecendo a ordem de Clover, Mary decolou para junto com os outros pégasos, sentindo que sua dona estava tremendo, o animal decidiu ir mais devagar, a vista era bonita, dava para ver todo o acampamento lá de cima. Clover segurava forte a rédea de Mary, mas mesmo assim estava vendo a vista admirada. A dupla não voou nem um minuto direito e tiveram que descer, com a ordem de Ceci e a tempestade no acampamento, Mary desceu de volta para clareira sem esperar a ordem de Clover.

Liam estava na clareira ajudando os novatos que foram pegos de surpresa pela tempestade, vendo que tinha um baixinho no seu pégaso ainda, o sátiro oferece ajuda.

- Ei baixinho! Precisas de ajuda!? – O sátiro estende os braços para que o garoto pulasse.

Mark, Dennis e Ceci testemunharam o raio acertando a asa de Thea, atônitos. Dennis cobriu os olhos, sem querer ver Elisa e Thea despencando no chão.

A queda foi feia. A líder do chalé de Deméter correu ao socorro de Elisa, hesitando em tocar no seu pégaso. Dennis também correu para ajudar, mas não parecia ser de muita ajuda: o garoto tremia, as pernas bambas, apavorado com o que tinha acontecido. Já o meio-irmão estava parado no mesmo lugar, indiferente.

Mark olhou para o bosque, e seu olhar se cruzou com o olhar de Enmei, que sorriu. O pedido de Ceci o tirou de seus devaneios:

— Mark, precisamos da sua ajuda!! Você não pode carregar Thea até os Estábulos?

O loiro estreitou o olhar. Rápido, retrucou:

— Não.

— M-Mas...!

O semblante do rapaz endureceu, fazendo Ceci gaguejar. Nem morto que Mark tocaria num animal daquele tamanho.

Mark fitou Elisa. Bufou, cruzando os braços e desviando o olhar.

— ... Você viu o que aconteceu nos estábulos, não viu...? Animais me odeiam. Eu odeio animais... É algo recíproco. — e deu de ombros. — Não confio no seu bicho...

— Por favor, Mark. — pediu Ceci, insistente. — Você é o único que pode nos ajudar! Precisamos da sua habilidade!!

Dennis fitou o meio-irmão.

— Habilidade? Tipo, você tem um poder, irmãozão??

O loiro suspirou.

— ... Sim. Mas isso não vem ao caso. Não vou ajudar.

Ceci aproximou-se de Mark. Ficou na ponta dos pés, querendo ficar cara a cara com ele (o que não funcionou, pois o filho de Hefesto era gigante, e Ceci era uma anã).

— Se você não ajudar, vou contar para a Lari! — murmurou, ameaçadora. Seu tom de voz diminuiu. — Você se lembra do que foi decidido no conselho, não é? Que você teria que cuidar de Dennis E de Elisa...? Então faça seu trabalho!!

Mark trincou os dentes. Praguejou baixinho e, contra sua própria vontade, fitou Elisa.

— Diga a ele para se comportar. Vou levá-lo até os estábulos.

Liam foi até Ryan tentando pega-lo antes que caísse, quando o pégaso foi engasgado pelo garoto o sátiro ficou muito preocupado com o animal, então ele pegou o filho de Hermes antes que o animal se machucasse mais, pegando o garoto como se ele fosse uma princesa.

- Não sei o que está acontecendo, normalmente a barreira magica não permite que uma tempestade desse tipo entre no acampamento.

Mark hesitou. Aproximou-se de Thea e agachou-se ao seu lado, passando um dos braços fortes por seu lombo e segurando seu peito com a mão livre. Contou até três e, realizando um pouco de força, ergueu a égua do chão sem dificuldade.

Ele torceu o nariz, resmungando:

— Ugh, que cheiro de bicho fedido...! — e se pôs a caminhar, carregando Thea.

Ceci dirigiu-se aos demais campistas:

— Tragam os seus pégasos! Vamos voltar para os estábulos!

Dennis assentiu. Afagou o focinho de Doce de Leite, segurando suas rédeas e guiando-a, seguindo a filha de Deméter e Cupcake.

~

Ceci indicou o cubículo de Thea para Mark, que deixou a pégaso ali. O filho de Hefesto estava ensopado e com as roupas sujas de lama e folhagem, além de um forte cheiro de animal molhado. Estava carrancudo, o rosto contorcido numa careta feia.

— Vou cuidar pessoalmente da Thea para você, Elisa! — disse Ceci, determinada. — Deixe-a sob meus cuidados!! Também vou pedir a ajuda de Kathy para cuidar da asa dela; prometo que logo logo, ela ficará bem!

Dennis trouxe Doce de Leite para dentro dos estábulos. Estava ensopada, a franja molhada caída por seus olhos, o pelo sujo de lama. Outros filhos de Deméter aproximaram-se dos novatos, dispostos a ajuda-los à lavar os animais.

— Elisa, passe na enfermaria, ok? — pediu Ceci, fitando então Mark. — Acompanhe-a até lá, Mark!

Ele praguejou outra vez, revirando os olhos. Enfiou as mãos nos bolsos da calça, aproximando-se da garota loira.

— ... Vamos lá.

Dennis preferiu ficar nos estábulos cuidando de Doce de Leite.

— Pode deixar que também vou cuidar da Thea, Elisa! — disse o ruivo, dando um sorrisinho.

Liam ficou meio ofendido por ouvir o insulto do garoto para a barreira de Thalia, mas já como Ryan era um novato, resolveu perdoar. Então Ceci ordenou os campista para voltar ao estábulos.

- É melhor nós irmos com eles. – aconselhou Liam. – estou indo na frente, depois a gente se fala, tchau baixinho.

Liam saiu sem esperar uma resposta, então foi até Clover que parecia ainda confusa.

- Vamos ao estabulo, é melhor sairmos da chuva para não ficarmos resfriados.

- É tens razão. – Clover foi até Mary que estava com asas encolhida, mesmo molhada ela continuava bonita.

Juntos eles foram até os estábulos, Mary já foi direto ao seu cantinho como de costume. Um cheiro forte de bode molhado saia de Liam, mas Clover resolveu não protestar, não queria magoar o sátiro.

Mark franziu o cenho. O canto de seus lábios se contraiu no que parecia ser um sorriso; seria bom se livrar daquela tarefa chata de levar Elisa para enfermaria, mas por outro lado, não podia deixá-la sair andando sozinha naquele estado. Nem queria pensar no que Larissa faria com ele caso descobrisse que tinha feito isso...

— Eu posso levá-la até lá. — Alicia ofereceu-se, dando um passo à frente.

Mark e Ceci pareceram surpresos de ver a filha de Atena ali. Antes que ela voltasse atrás do que tinha dito, o rapaz loiro grunhiu um “vlw flw”, saindo dos estábulos. Não suportaria ficar mais um segundo naquele lugar fedido cheio de bichos.

Ceci não pareceu nada contente com a decisão de Mark, mas não reclamou. Apenas suspirou.

— Tudo bem. Obrigada pela ajuda, Alicia. — ela deu um sorrisinho.

Alicia assentiu de leve, voltando-se para a novata.

— Vamos?