Dennis saiu correndo na frente, entrando na floresta. Mark disparou atrás do meio-irmão.
— E-Ei! Estúpido!! Espere!
O garoto sardento corria de um lado para o outro, procurando por um monstro. Estava animado com sua primeira caçada, certo de que se sairia muito bem.
Já Mark estava emburrado. Fazia uma contagem mental de quantas armas estava deixando de fazer para acompanhar Dennis naquela atividade estúpida.
“Dennis e Elisa vão me pagar... Eles vão ver só.”E continuou a seguir o ruivinho, chutando pedras e galhos com o coturno.
~
O tempo se passou. Dennis havia diminuído o passo, já cansado. Não sabiam por quantas horas estavam andando naquela floresta, que cada vez mais parecia mais assustadora.
Por conta das espessas folhagens, pouca luz do sol atingia o solo, o que dava à floresta um aspecto sombrio. O lugar era úmido, e Dennis podia jurar que criaturas os observavam de cada arbusto...
Foi então que um bicho pulou de trás de uma árvore. Dennis gritou que nem uma garotinha, tropeçando numa raiz e caindo de bunda no chão.
Era um esquilo.
Mark riu. Riu de chorar, secando as lágrimas dos olhos.
Dennis estava vermelho de vergonha. Espantou o pequeno esquilo, levantando-se do chão e tirando a sujeira de sua roupa.
— P-Pare de rir!! — gritou Dennis, fumaça saindo de sua cabeça. — A-Aquele esquilo era assustador, ok?!
O loiro calou-se. Seu corpo inteiro enrijeceu, e seus olhos escuros começaram a rondar o local em busca de algo.
Dennis estranhou a reação do meio-irmão. Franziu a testa, confuso.
— O que foi?
— Calado.
— Não, tipo, sério cara, pode me falar o que tá acontecendo!
—
Cale a boca.O ruivo parecia indignado.
— Você é grosso mesmo, hein?! — bufou. — Não precisa me tratar desse jeito!! Você poderia ser mais educado e dizer
“cale a boca, por favor” que tipo, eu ficaria quieto! E eu sei que tem vezes qu—
Uma criatura pulou de uma moita para cima de Dennis, que não parava de tagarelar. Mark jogou-se em cima do meio-irmão, tirando-o da frente do monstro. Ambos foram ao chão.
— OQUEEE?! — gritou o ruivo, sem fazer ideia do que tinha acontecido.
— Levante-se!!
Mark já estava de pé, em posição de ataque. Segurou o medalhão de seu colar, que no mesmo segundo transformou-se num martelo de guerra de bronze celestial.
Ainda no chão, Dennis conseguiu ver o monstro. Era um artrópode enorme, com várias pernas e um exoesqueleto brilhante cor de âmbar.
— ARANHAAA!! — berrou, levantando-se num pulo.
— É um escorpião! — corrigiu Mark, revirando os olhos. — Mas esse escorpião... O que diabos Nelson estava pensando?!
Nas costas da criatura era possível ver um pequeno embrulho de seda vermelho: o embrulho que deveriam entregar ao filho de Ares. Aquela era a prova de que o escorpião era o monstro da qual deveriam derrotar.
— Aqui!
Mark lançou um pequeno e velho martelo ao meio-irmão. Era uma ferramenta qualquer, um martelo normal.
— O QUE EU VOU FAZER COM ISSO?!?!
— Lute!!
Dennis fitou o martelo enferrujado. Mark deveria estar zoando com ele, só podia ser!!
O escorpião avançou rapidamente na direção do ruivo, suas pinças abrindo e fechando. Tentou agarrar o humano com uma das pinças, mas este conseguiu desviar jogando-se para o lado.
Dennis rolou pelo chão. Desajeitado, levantou-se. Seu coração batia à mil. Sua respiração estava acelerada. O artrópode virou-se em sua direção, os pequenos olhos brilhando cruéis. De repente, o garoto sardento sentia-se agitado. Atento. Uma onda de adrenalina percorreu seu corpo: ele conseguia ver o monstro logo à sua frente. Podia ver seu ferrão no alto, pronto para um ataque. E podia ver o meio-irmão não muito longe, empunhando seu martelo.
Todos os seus sentidos estavam apuradíssimos, seu corpo tenso. Era como se lá no fundo, tivesse nascido para lutar.
O escorpião atacou. Baixou sua cauda, querendo acertar o humano. Dennis saltou para o lado, desviando do golpe. Ele deu um sorrisinho mas, antes que pudesse comemorar, o monstro virou-se e golpeou-o com uma das grandes pinças. Dennis voou de encontro com uma árvore, soltando um gritinho de dor. Sua cabeça girava. Tudo girava. Um borrão cor de âmbar vinha velozmente em sua direção.
Vendo que o meio-irmão corria perigo, Mark decidiu intervir. Lançou seu martelo na direção do escorpião, acertando seu tórax. A criatura guinchou de ódio, voltando sua atenção para o outro humano.
— Pode vir, monstrengo!! — gritou o loiro a plenos pulmões, intimidador.
O monstro soltou um grunhido horrível. Sentindo-se desafiado, avançou na direção de Mark, que agora estava desarmado. Havia lançado seu martelo, então demoraria um pouco para ele aparecesse em suas mãos. Precisava tomar cuidado.
O escorpião tentou agarrar o filho de Hefesto, mas este foi capaz de amparar o golpe com as mãos nuas. Mark grunhiu, fazendo força. A pinça esquerda do monstro rachou e, num simples movimento, foi arrancada pelo meio-sangue com facilidade.
Um grito ensurdecedor ecoou pela floresta. A boca da criatura borbulhava. Rápido demais para que Mark pudesse desviar, o escorpião o golpeou com a outra pinça, derrubando o humano. Seu ferrão estava pronto para um golpe fatal.
O loiro ganiu, atordoado. Dennis sufocou um grito ao ver o meio-irmão prestes a morrer. Ele se levantou e, mesmo com as pernas bambas, tomou coragem e foi correndo na direção do monstro, o martelo enferrujado logo acima da cabeça.
— EU VOU TE SALVAR IRMÃOZÃÃÃÃO!!!
O martelo que segurava mudou de forma. De uma ferramenta, tornou-se um martelo de bronze celestial parecido com o de Mark. Dennis sentiu a arma transformando-se e ficando pesada: seus bracinhos magrelos não aguentariam empunhá-la por muito tempo. Ele fechou os olhos e girou, largando o martelo...
Dennis esperava que seu ato heroico tivesse não apenas salvado seu meio-irmão, mas também destruído o monstro. Mas seu martelo saiu voando pela copa das árvores, sumindo no meio da floresta.
— ... Ops.
O escorpião voltou seu olhar feroz na direção do garoto sardento. Não tinha gostado nem um pouco de sua tentativa de mata-lo.
Desviando a atenção de Mark, o monstro agarrou Dennis com sua pinça restante. O apertou com força, fazendo o ruivo gritar e espernear.
Ouvir os berros desesperados do meio-irmão fez com que Mark fosse tomado por adrenalina. Ele levantou-se num pulo apenas para ver o ferrão do escorpião descendo na direção de Dennis.
Foi então que Mark sentiu sua mão ficar pesada. Seu martelo havia retornado.
Ele esperou o momento certo e...
THUMP!!Mark havia lançado seu martelo. A arma acertou a cauda do monstro, decepando seu ferrão.
Ao guinchar de dor, o escorpião apertou sua pinça, fazendo Dennis dar outro gritinho. Foi possível ouvir o barulho de ossos se partindo. O ruivo chorava, agoniado. Podia jurar que seria esmagado pela garra do bicho e que morreria ali mesmo.
Não podia morrer ali. Não podia morrer para um escorpião estúpido que Nelson havia arranjado.
Dennis gritou. Mas não um grito de dor, mas sim, um grito de fúria. A temperatura de seu corpo subiu. Seu corpo queimava. Fumaça começou a sair de sua cabeça e, no próximo segundo, o garoto entrou em combustão. Dennis literalmente estava em chamas.
O fogo se alastrou pelo escorpião, que soltou o meio-sangue. A criatura começou a correr em círculos e a bater nas árvores, sendo consumido pelas chamas. Mesmo não fazendo a mínima ideia do que havia acontecido, Mark se recompôs e aproveitou a brecha. Investiu na direção do escorpião e pulou, seu martelo de bronze celestial em mãos. Acertou a cabeça do monstro com toda a sua força, esmagando-a contra o chão. Num guincho estridente, o escorpião se reduziu a pó.
Mark ofegava. Pegou o embrulho de seda vermelho e enfiou no bolso, indo até o meio-irmão. Dennis gritava sem parar, ainda em chamas. O fogo se alastrou rapidamente para as árvores e, em segundos, um incêndio tomou conta da floresta.
— Dennis!! DENNIS!! — o loiro gritou, deixando seu martelo de lado. Ele fitava o garoto sardento completamente confuso, sem entender nada. Hesitou em tocá-lo com medo de se queimar, mas ao ver que o outro filho de Hefesto parecia sentir muita dor, ignorou as chamas e encostou no outro com as mãos nuas, queimando-se no processo. Ele chacoalhou Dennis, começando a se desesperar. — DENNIS, CARA!! VAMOS LÁ!! LEVANTE, DROGA!
Dennis pareceu sair do seu transe. Ele abriu os olhos e, imediatamente, as chamas que envolviam seu corpo apagaram-se. Fitou o meio-irmão de forma vaga, confuso.
— M-Mark...? O q-que...
O ruivo olhou ao redor. O escorpião havia sumido e a floresta ardia em chamas.
— O que aconteceu?!
Dennis tentou se levantar, mas não conseguiu. Seu corpo inteiro doía.
— Você não consegue andar?
— N-Não...
Mark olhou ao redor. Era melhor saírem dali antes que a fumaça engrossasse.
O loiro suspirou pesadamente e transformou seu martelo de volta num colar, passando-o pelo pescoço. Em seguida, pegou Dennis nos braços e tratou de retornar para a entrada da floresta, ignorando a dor que sentia nas mãos queimadas.
~
Larissa, Nelson e Kathy estavam na entrada da floresta juntamente com Ryan, Rose, Allen e Nick, que já tinham retornado da caçada com sucesso. Kathy estava orgulhosa de Rose por ter participado da atividade, conversando com ela animadamente. Já Nelson estava entediado, roendo suas unhas.
Foi Larissa quem primeiro percebeu fumaça negra saindo da Floresta. Em poucos segundos, a floresta inteira estava queimando em chamas, tomada por um incêndio.
— INCÊNDIO!! — gritou a filha de Dionísio, lançando um olhar à Nelson e Kathy. — VAMOS!!
A garota loira estava boquiaberta. Nelson empunhou sua lança elétrica, animado.
—
VAMOS LÁ!! ISSO VAI SER DIVERTIDO, HAHA~!! — ele deu um sorriso psicopata, entrando mata adentro.
— HEY!! Esperem por miim!! — Kathy pegou seu arco, correndo atrás dos companheiros.